O dia de hoje , 30 de Julho é conhecido mundialmente como o “Dia de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”. A data foi instituída em 2013, pela resolução A/RES/68/192 da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Este é um tema muito sério e importante. O Portal RJ4 mergulhou fundo numa minuciosa investigação ao lado da tecnóloga em Investigação Forense e Perícia Criminal Daniele de Aires em busca de detalhes, casos, culpados sobre esse mundo obscuro que infelizmente movimenta a bilhões em dinheiro.
Tráfico humano consiste no ato de comercializar, escravizar, explorar e privar vidas. E dentro dessa temática, existem vários tipos de tráfico: tráfico para extração de órgãos, tráfico para exploração sexual e tráfico para exploração laboral.
Tráfico de órgãos, por exemplo, têm como vítimas pessoas em estado de vulnerabilidade, tanto social quanto econômica. Essas vítimas muitas vezes são pessoas que vivem em situação de miséria e aceitam dinheiro em troca de um de seus órgãos. E quem paga por um órgão? Os compradores são pessoas em estado de desespero, pessoas cujo as vidas dependem do transplante para seguir existindo. Essas pessoas têm grande poder econômico e podem arcar com o procedimento e custear tanto o “doador” quanto o (os) intermediário (os), melhor dizendo, traficantes.
A exploração sexual e laboral (análogo à escravidão) são tipos de tráfico humano onde as vítimas, são enganadas com falsas promessas de emprego em outros estados ou até mesmo outros países. Essas vítimas, só se são conta de que a proposta de emprego com salário dos sonhos é falsa, quando já estão totalmente isoladas, assim não tendo como fugir dessa situação. Os traficantes negociam as pessoas como se fossem mercadorias. As pessoas traficadas com a intenção de exploração sexual, quase sempre são drogadas para não terem poder de reação. Com isso, se tornam dependes de drogas e assim são mais facilmente controladas por seus algozes. Os traficados para trabalharem como escravos, vivem apenas para trabalhar o máximo de horas possíveis por dia, sem alimentação adequada, não recebem salário e não é incomum sofrerem agressões e ameaças para que sigam cativos.
Mas ainda há um tipo de tráfico humano que as vezes é muito bem disfarçado como uma “adoção legal”. Trata-se do tráfico de menores. Entre as décadas de 1980 e 2000, ocorreram denúncias onde crianças teriam sido enviadas para vários países sob o disfarce de uma adoção. Juízes, promotores, delegados, policiais, médicos, enfermeiros e outras pessoas que serviam como intermediários, todos envolvidos para encobrir a venda de crianças.
Os futuros “pais adotivos” buscavam por uma maneira menos burocrática para realizarem o sonho de criar uma criança. Com essa grande demanda, a oferta, ou seja, as crianças, eram escolhidas a dedo. Casais de vários países do mundo por vezes buscavam por qualquer tipo de bebê ou mesmo crianças já maiores. Porém, muitos desses casais exigiam características como: cor da pele, dos olhos, sexo e raça. O principal motivo era justamente para que se parecessem com eles e assim não seriam questionados se o filho era biológico ou não. E quando não se podia “cumprir” tal exigência? Aí então a oferta era criada. Na minha experiência como investigadora, já li muitos relatos tanto de mães biológicas que foram abordadas por essas quadrilhas, quanto de “adotados”, na verdade, “traficados”.
As mães biológicas, em sua grande maioria, mulheres que na época eram jovens, solteiras, quase sempre sem instrução, sem apoio dos pais de seus bebês e também sem apoio de suas famílias. Algumas manifestavam o desejo de doar o bebê ainda durante a gestação e aí surgiam os intermediários. Eles ofereciam dinheiro para pagar todo o custo do parto e também algum dinheiro para a mãe. Com isso, essas mulheres não tinham como desfazer o combinado. Algumas, logo depois do parto, eram impedidas de verem os filhos. Faziam parte do esquema funcionários do hospital e esses agiam rapidamente para que a entrega do bebê para os “pais adotivos” ocorresse sem problemas. Algumas dessas mães biológicas relataram que após o parto, ao verem os rostos de seus filhos, já não queriam mais seguir com a doação. Mas nesse ponto, já era tarde. Eram ameaçadas, pois não tinham como devolver o dinheiro que receberam.
Ainda há uma parte mais nebulosa nesses casos: mulheres que não tinham nenhuma intenção de doar seus filhos, mas que receberam a triste notícia que seus bebês haviam falecido. Algumas questionavam e exigiam ver o corpo, contudo a justificativa do hospital era de que o corpo já tinha sido enterrado, ou que o caixão já estava lacrado e não poderia ser aberto, ou que perderam o corpo ou ainda ignoravam os seus questionamentos e não mais as respondiam. Essas mães nunca receberam os atestados de óbitos de seus filhos, e, como na época não perceberam que tinham um possível sequestro em andamento, nem boletim de ocorrência foi feito.

Os estados do Paraná e de Santa Catarina foram os mais citados em denúncias de tráficos de bebês para o exterior, em grande maioria para Israel. Em 1988, Arlete Honorina Vitor Hilu, mais conhecida como Arlete Hilu foi condenada com uma pena de dois anos, onde respondeu pelos crimes de Tráfico de Crianças, Falsidade Ideológica e Formação de Quadrilha. Em 1992 novamente foi julgada pelos mesmos crimes. Estimam-se que mais de 4 mil crianças tenham sido traficadas pela quadrilha a qual Arlete pertencia.
Lior Vilk foi um dos bebês traficados por essa quadrilha. Arlete foi pessoalmente até Tel-Aviv para entrega-lo para seus “pais adotivos”. O jovem chegou até Daniele graças ao trabalho voluntário que ela faz há anos no grupo Busco Minha Família, que fundou.
Em entrevista concedia a ela, Lior revelou:
“Ser adotado não era o problema, amo meus pais, mas o que me deixou mal foi descobrir toda essa trama, saber que na verdade fui comprado”.

Mas não foi somente no sul do Brasil que esses crimes aconteceram. Em 1999, o ministério público da cidade de Jundiaí, situada no estado de São Paulo, recebeu denúncias de mães que tiverem seu pátrio poder destituído de forma irregular. Essa quadrilha não agia somente com a intenção de traficar bebês, mas também crianças já maiores.
Uma dessas mães, dona R.A.R., que pediu para não ser identificada, teve dois de seus filhos levados e imediatamente adotados para o exterior, uma menina de 7 anos e um menino de 11 anos. Até hoje ela ainda anseia saber notícias deles, pois nem tem certeza se foram adotados juntos. Foi criado o movimento das “Mães da Praça do Fórum” que reivindica a apuração de ilegalidades nas adoções.
Para essas mães que tiveram seus bebês levados, a dor não tem fim. E para os “traficados”, também não é diferente. Muitos ainda lutam na justiça para obter alguma pista de suas famílias biológicas, mas é muito difícil obter alguma verdade, uma vez que os dados foram todos adulterados para assim dificultar a localização das mães biológicas. Vários já recorreram ao DNA de Ancestralidade. Essa é uma nova ferramenta que tem ajudado a muitos a encontrar suas origens biológicas. Se ambos os lados o fizerem: a mãe e o (a) filho (a) o laboratório confirma o parentesco.
Os brasileiros que foram adotados legal ou ilegalmente (adoção à brasileira), perante as nossas leis, são vistos como adotados, sem distinção. O artigo 48 da Lei nº 12.010/2009, do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, diz: “O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter o ir ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 anos”. Parágrafo único: “O o ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18 anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica”.
O assunto é extenso, envolve muitas vidas, gera angustia, dor e desespero. Defensores dos Direitos Humanos, como nossa Daniele que redigiu esta reportagem não vão cansar de lutar, de clamar por justiça e de buscar formas de promover a paz e reencontro de familiares . Dados das Nações Unidas indicam que cerca de 53.741 vitimas foram resgatadas no Brasil.
Se você desconfiar de situações que envolva o Tráfico Humano não tema. Denuncie através dos telefones abaixo:
Disque 100
Policia Civil 181
Policia Rodoviária Federal 191
Central de Atendimento Á Mulher 180
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