As cenas de enchentes e das perdas que as chuvas causam não é de hoje. Cada vez que temporais ocorrem a população pede socorro.
Culpa dos governantes?Sim. Culpa dos moradores? Também. A verdade é que todos temos culpa. Uns por se omitirem, outros por pouco fazer.
Nos anos 80, essa repórter, com então 8 anos de idade, começou a sentir na pele essa realidade.
Um temporal causou a invasão de sua residência em plena festa do seu aniversário, com água quase na altura do joelho acabando com a comemoração e todos os mantimentos da casa. Esse foi so um alerta da natureza.
Eu morava numa rua conhecida no centro comercial do meu município. Perímetro urbano. Aparentemente nada que pudesse gerar transtorno. Mas havia um rio. Sim um rio ava por baixo da rua e foi mal assoreado. Quando chovia forte, casas e estabelecimentos comerciais dali sofriam.
Nunca tivemos perda de vidas ali, mas as perdas materiais e o psicológico afetado nos seguiriam para sempre na memória.
Aos 10 anos, a poucas semanas de mudarmos para a casa que até hoje resido, o dia virou noite. Uma forte tempestade que nem as altas calçadas da rua e os alambrados do quintal impediram de agir. A força era tamanha que o portão foi arrancado e parou a metros de distância, às margens da linha do trem.
Me lembro de ser posta sentada no parapeito mais alto de uma janela. Lembro também da correria de todos para tentar salvar o que podia, jogando mantimentos e eletrônicos na beliche que eu dormia. Lembro dos gritos dos vizinhos que choravam ao perder suas coisas.
A água não parava de demonstrar força. Jorrava pelo vaso sanitário, pelos ralos da casa, destruía tudo que via. O desespero continuou quando ela baixou e deixou rastros de lama e estragos infinitos. Perdemos 80% das nossas coisas, incluindo roupas, documentos e fotos.
Em 19 de setembro de 1989 nos mudamos com praticamente a roupa do corpo. Eu tive a sorte dos meus pais e avós trabalharem na época e aos poucos compraram tudo para essa nova vida. E quem não teve a mesma chance de sair e recomeçar?
Se aram 34 anos do ocorrido. Meu município é mais seguro. Aquela rua nunca mais teve problemas pois o poder público cuidou.
Essas amargas lembranças sempre voltam ao ver tragédias como a de Petrópolis que hoje(14) completa 1 ano.
Sentir isso na pele foi horrível, mas saímos inteiros, todos com vida. E as famílias que vivem em locais de risco e não tiveram essa chance?
Obras de contenção não são baratas, mas são necessárias, muito mais que embelezamento turísticos das cidades. Cabe aos governantes minimizarem esses problemas. Cabe também a população ter consciência de não jogar lixo em rios e evitar morar em barrancos e encostas.
Mais ai você diz: Cris mais como lutar contra a natureza? Não lute. Torne-a sua aliada. Não destrua para que ela não te devaste.
Vencer situações como essa com vida e esperança para dias melhores é papel de todos. Reflita até onde vai a sua culpa e construa alicerces melhores e sem riscos.
Eu senti na pele e você? Conte para gente sua história.
*** Conte ou nos proponha situações para sentirmos na pele como é. Ser repórter é também vivenciar literalmente a noticia, entender os sentimentos e expressar a dor, a alegria e a vitória dos outros.
Sugestões para Sentindo na Pele – [email protected]
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